Compositor: Michele Salvemini
Eu não faço um espetáculo, eu dou um espetáculo como
Meu avô bêbado no dia da minha comunhão
Tão fora da casinha
Que tenho parentes que não estão nem aí por carregar meu sobrenome
Deixem-me a presunção
De me sentir um lixo
Às vezes duro, às vezes líquido
Que nada de fama, sou um morto de fome
Que nada de lugar à mesa, tenho a tigela como um cachorro
Eu ladro por um par de pratos que mendigo
Posso ficar nervoso, mas acabo esquecendo
Ao meu lado está um médico de verdade, ele me diz
Você não percebe que tá ficando esquizofrênico?
Cala a boca, médico
Você me custa caro
Eu valho zero
E não me chame de artista, mas de palhaço
Tá claro? Eu sou palhaço na raiz
Sou feliz na merda, deveria chorar e, em vez disso
Estou doente, mas de um lado não dou espaço a vitimismos
Um Mirko, com todos os crismos
Licia, me beija
Almejo o Oscar, mas o dos aforismos
Deveria ter tomado banho, mas me deram um frisbee
E eu estou fedendo pra caramba
Bebo à vontade
Escapando do meu destino como clandestino em um barco
Olhos arregalados como um coruja
Construo tufo sobre tufo um futuro que me vê como um ET
Certeza que vou me cansar
Juro por cada cabelo
Deveria tocar trompete de tantas vezes que suspiro
Se eu mergulho em uma ideia minha
Me encontro em apneia em uma maré de diarreia
Acho engraçado
Estou vivo, mas não vivo porque respiro
Me sinto vivo só se tiro a caneta e escrevo
Quando nasci não entendia
E agora que continuo sem entender, só me resta
Rir, mas chorar de gosto
Se vejo o cara bombado e bronzeado no ponto certo
Eu que entre os fios tenho a lama de Woodstock, fedendo
Acumulo por horas o suor que espirro
Amo as mulheres que cheiram a peixe
Mais que uma corista com lantejoulas e penas de avestruz
Rolo em um montão de alegria
Mesmo que o verão não passe na diversão da praia
Sou o campeão da lama
Mas tenho a cabeça quente como rocha vulcânica
E na competição de quem engana na música
Estou jogando com um dois de paus na manga
A única certeza é que acabo mal
Morre Caparezza, todos no funeral
É paradoxal
Mas eu não vou, não me importo
Mãe, quantos discos vão vender se eu apagar
(Doutor, na sala de cirurgia)